quinta-feira, 6 de maio de 2010

ME GUSTA SALAMANCA






ME GUSTA SALAMANCA

(Salamanca 05/06/2006)

 

É, creio mesmo que o acaso me trouxe aqui!

Será!!!

Hoje melancolia… alegria… solidão…

Ponte Romana! Passei, atravessei, voltei.

Vi as luzes surgindo…

Cidade romana!

Vou andando e descobrindo…

Lugares ocultos…

Recantos, Paulaner, jazz, blues!

Saudades da MPB!!!

Rock n’ Roll na Plaza Mayor, sábado à noite!

Me encanta perambular e andar devagar!

Silencio nas ruelas seculares, milenares…

Estreitas, histórias muitas… escondidas!

Espaço e tempo…Se confundem!

 

Salamanca, bela das pedras cor de rosa.

De muralha redescoberta

Quero homenagear tua beleza…Num átimo…

Pois que estou aqui, agora, e não sei até quando!

Assim, vou ficando! Assim!

¿Hasta cuando?

Yo no lo se.

Pero, creo, no es necesario saber!

Construir conhecimentos… Buscar sabedoria… cultura…

Ressignificar a teia?

Tudo num mesmo trilho,

E roda… e roda… e roda…Etc. etc. etc.

 

Agora entendo o voo das tuas cigüeñas, cegonhas…

Pois é, cuidam dos filhotes, em emaranhados nidos, ninhos…

E ao entardecer, brincam, voam, passeiam, batem asas,

Se despedem do dia.

Aos poucos vao se aquietando em seus ninhos.

No alto dos campanarios de igrejas milenares…

Barrocas. Romanas. Romanticas!

Fotografar, é pura compulsão…

Registrar, puro enlevo!

Universo de delicadeza!

Cirulnick entende… “Sob o Signo do Afeto”

Relaxar… Fazer  a mente descansar,

Preciso… Grito… Quero colo!!!

Comunicação nao verbal ???

Pergunto… Calo… Penso… Reflito…

Tenho muito que andar…Tudo passa…E passa rápido.

Tudo pode ser ou não ser

Comunicação Verbal ou Não Verbal, eis a questão Professor…


QUANDO SOA A CAMPAINHA


Uma das entradas da catedral velha de Salamanca-Espanha

 
Como acontece todo sábado... Acorda... E depois de um demorado banho, veste uma roupa leve, sempre aquela camiseta branca de algodão já surrada, e uma velha calça de flanela marrom. Toma o café da manhã na sala, àquela hora, ainda meio sombria, enquanto assiste a um programa diário de notícias, na televisão. Os ponteiros do relógio marcam vagarosamente, a passagem vigorosa do tempo. Ansiosa, fica atenta. Espera mais uma vez, que toque a campainha da porta, e de repente ele chegue... Entre... E beije sua boca com avidez de macho... Isso deixa suas pernas quentes, comprime um pouco para aliviar a tensão... Tudo começou há um tempo atrás, numa praça. Estavam cheios de desejos. Falavam entre outras coisas, de magia, palavras que marcaram esses pequenos e furtivos encontros. E com carinho trocavam abraços e beijos ardentes, sem promessa para o futuro.
No mes de junho a natureza se renova, é um período de transição, entre o rigoroso inverno e o verão, que traz a calidez de dias luminosos, ensolarados. E um verdadeiro convite a se vivenciar encontros com sabor de novo. Os casacos pesados vão para o armário, onde ficam alguns meses trancafiados, esperando a chegada invernal, infernal, desnudando assim, as pessoas, que se mostram mais a vontade com seus corpos, e se deixam seduzir. As cegonhas começam a chegar e preparar os enormes ninhos nos campanários das igrejas seculares. Estava feliz, havia conseguido entregar todos os trabalhos. Durante um dos últimos seminários, havia uma certa cumplicidade de olhares com o professor... Porém, não queria se deixar envolver...
Sentemos... a voz forte sussurrou ao seu lado. Somente a fonte de água, de testemunha... Sentaram..., no banco da pracinha solitária, entre o sábado e o domingo daquele final de semana de junho. Era mais de uma hora da madrugada, soprava uma suave brisa, sentia um pouco de frio nos braços. Voltavam de uma confraternização num restaurante indiano, para despedida da turma, que começava a retornar a seus países de origem, um a um. A cada dia, a sala de aula do seminário de Ciências Sociais, durante o período de docência, nos meses de janeiro a junho daquele ano, começava a se ressentir com as ausências.
Depois do jantar, foram a um show em praça pública, de uma conhecida banda de rock, onde dançaram, movimentando os corpos até suar, e deixar a adrenalina fluir e fotografaram. Em seguida foram a um barzinho num dos becos próximo ao local, beber um chupito, espécie de licor com aguardente, de sabores coloridos. Tomaram uma água mineral..., ele olhou para ela e falou: vamos..., ela silenciosa acompanhou... Embaixo de um poste de luz amarela da enorme praça onde minutos antes fervilhava de gente e de sons, pararam... seguiram... outro poste... outra parada...
Perguntou: onde moras? Ela explicou... Seguiram... Falavam compulsivamente, como que para esconder um desejo..., uma emoção? Sentaram... joelhos contra joelhos... ato continuo, colou os lábios nos dela, que aos poucos se entregou aquele dócil e enigmático instante, como o clic mágico de uma camera fotográfica... Em sua cabeça fervilhavam pensamentos dúbios numa dicotomia de valores e sentidos: Encontros e Desencontros... Chegadas e Partidas... Início e Final... Felizes se entregaram a mais beijos loucos, abraços ao princípio retorcidos, sem jeito... E se foram, para o paraíso... Como dizia o poetinha Vinícius de Moraes: “Mas que seja infinito enquanto dure”... E foi eterno... uma, duas, três semanas, e lá se foi ele. E numa tarde cinza, sentada ao pé de um monumento, as lágrimas rolavam e aceleravam as batidas no seu peito desfeito...

Conto publicado como
Clara Drummond (pseudônimo)
no site da Bienal Internacional do Livro de Recife/2009.
Salamanca, 04 de outubro de 2009.