terça-feira, 5 de maio de 2015

15ª EDIÇÃO DA FESTA DO MARCO VIVO DA IMBURANA

Festa de ritos, magia, sagrado e profano, orações e danças, além de momentos destinados a uma conexão com a ancestralidade sagrada local por meio da cerimônia do toré, a 15ª edição do Marco Vivo da Imburana, foi realizada nos dias 08 e 09 do mês de abril passado. E contou com a presença de um grupo de antropólogos, entre eles o coordenador do programa de Máster em Antropologia Ibero Americana da Universidade de Salamanca-USAL/Espanha, Professor Dr. Ángel Espina Barrio, do  Ms. Daniel Valério e da jornalista e Dra. Regina Clara de Aguiar, que estiveram etnografando alguns momentos da festividade, marcada no calendário anual da etnia indigena Jenipapo-Kanindé, localizada na Lagoa Encantada, município de Aquiraz, área metropolitana da Grande Fortaleza, onde aconteceu o evento em tela.
O Marco Vivo é uma celebração à natureza e às conquistas e lutas dos povos indígenas que vivem na referida região. Tem como objetivo a reafirmação de identidades étnicas, e se transforma num verdadeiro ritual ecológico e sustentável em agradecimento à vida. A liderança indígena que é considerada a primeira cacique do Estado do Ceará, conhecida popularmente como Pequena, e sua filha a futura cacique Juliana, foram as simpáticas anfitriãs do evento. A população dessa reserva indígena reconhece que vem obtendo cada vez mais conquistas, por exemplo, as escolas atualmente contam com professores indígenas qualificados, e o grupo já caminha para uma graduação em licenciatura intercultural indígena, pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Outra aquisição positiva pode ser apontada na área da saúde, pois há cerca de dez anos, funciona um posto para atendimento médico e uma equipe multidisciplinar na área.
Segundo os organizadores, quando a terra passou a ser limitada pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI, a uma área de 1.731 ha, a cacique Pequena sugeriu  o uso da imburana como o marco vivo da limitação das terras, já que essa planta é nativa e endêmica da caatinga na região nordeste brasileira. O seu nome popular deriva da corruptela das palavras em língua tupi, y-mb-ú e Ra-na, formando assim, imburana. Essa árvore pertence à família das Burseráceas, sendo empregada em diversas modalidades, - medicinal, forrageira, apícola, lenha, etc. -, a cacique achou que seria uma fonte limítrofe e inspiradora para demarcar a festa. E todo ano é realizado o ritual de preservação dos índios, que consiste em se arrancar um tronco da imburana e se replantar a planta mágica em outro lugar, com o sentido de multiplicar a vida.
O povo Jenipapo-Kanindé tem como meios de sobrevivência a prática da pesca, agricultura, pecuária, além de desenvolverem um turismo comunitário sustentável na área da Lagoa Encantada, no entorno do Morro do Urubu, que é ideal também para se fazer trilhas e acampar, sendo a lagoa e o morro fortes fatores de atrativos em meio a natureza e paisagens naturais do lugar, propiciando assim um turismo ecológico. A celebração do Marco Vivo, conta ainda com o apoio da Associação para o Desenvolvimento Local Co-Produzido-ADELCO, desde o ano passado. Essa entidade vem desenvolvendo projetos em áreas de povos indígenas no Ceará.
A programação do dia 08 de abril foi destinada a acolhida dos parentes, convidados, e do jantar, incluindo atividades como: oração da espiritualidade, ritual do toré e roda de conversa com os guardiões da memória, sendo o encerramento a meia noite. Já no dia 09 a festa teve início às 8 horas com delegações de alunos e professores de diversas escolas municipais. Foi servido um café da manhã comunitário e em seguida teve o ritual de benção da cacique Pequena, iniciando aí uma roda de dança do toré que se estendeu por quase toda a manhã, seguida de falas das lideranças locais e de outros povos envolvidos na solenidade festiva, assim como instituições parceiras, órgãos governamentais e algumas ONG’s. O momento do hino nacional foi incrível, entoado ao ritmo do forró cearense com instrumentos como a sanfona, tocada pelo secretário da cultura do município de Aquiraz, acompanhado por músicos locais com zabumba, triangulo, pandeiro entre outros percussivos.
Ao meio-dia foi servido um almoço comunitário. A tarde seguiu com o lançamento do CD da Cacique Pequena e apresentações culturais com os grupos Kunhã Apyara e Água Pé. Após a caminhada até a margem da Lagoa Encantada, no fim da tarde foi replantado o tronco da Imburana, e em meio a cantos e rezas os índios mais uma vez dançaram o toré na intenção de celebrar a vida. No encerramento a cacique Pequena agradeceu a presença de todos com as seguintes palavras: “a nossa Santa Mãe Terra, é nosso Grande Tesouro, é dela que nós precisamos... Sem ela não somos nada, somos peixinhos nadando fora d’água”.

Regina Clara de Aguiar

Jornalista e Dra. em Antropologia 


GALERIA DE FOTOS DO EVENTO


Cacique Pequena da etnia Jenipapo-Kanindé











Prof. Dr. Ángel Espina com o pesquisador e Ms. Daniel Valério


exposição de artesanato indigena











Roda de dança circular do toré


pintura no rosto com urucum

 

Portal com alameda de entrada no local da Festa Marco da Imburana


mesa improvisada para servir o café com iguarias da gastronomia indigena local


Portal da entrada


Grupo de indígenas e público ao redor do tronco da imburana replantado ao final da tarde


extase em meio a dança do toré


Criança da comunidade Jenipapo-Kanindé


Tronco da Imburana



Prof. Dr. Ángel Espina Barrio da Universidade de Salamanca-USAL e líder indigena Jenipapo-Kanindé


Juliana,  Dr.Ángel Espina e  Dra. Regina Clara de Aguiar








Fala da cacique Pequena e do Secretário da Cultura de Aquiraz








Tronco da Imburana


Execução do Hino Nacional em ritmo de forró cearense


Artesanato indígena








Daniel Valério, Regina, Ángel e cacique Pequena



O pesquisador Ms. em antropologia Daniel Valério em conversa com a comunidade




Trilha para a Lagoa da Encantada