sábado, 12 de fevereiro de 2011

Olite medieval


Prefeitura de Olite
Olite (Erriberri em basco/euskera) é um município medieval, charmoso e agradável, localizado próximo a Pamplona, que é a capital do Reino de Navarra, comunidade foral autônoma ao norte da Espanha. Com população de 3.435 habitantes (2006) em área de 83,20 km².

Ainda conserva rico patrimônio arquitetônico e cultural de épocas passadas. A torre medieval é um exemplo de conservação desse passado, ligando a Plaza Carlos III el Noble e a Calle San Francisco na zona central da cidade.
 

Torre Medieva entre Plaza Carlos III el Noble e a Calle San Francisco.
Plaza de Carlos III el Noble
 
Bar Mesón el Sol


Há também a visita quase obrigatória à igreja de Santa Maria, construída entre os séculos XIII e XIV, na Praça Teobaldos. O templo de nave única guarda em seu seio, valioso acervo em arte sacra onde podemos observar além do altar renascentista, uma estatua gótica da virgem e outra do Cristo de la Buena Muerte. Sua beleza artística é uma das mais importantes em estilo gótico de Navarra. Anexada ao Palácio Real da cidade, era a residência predileta do imperador Carlos III el Noble, e foi utilizada pelos monarcas navarros, tanto para festividades como para atos oficiais.

A caminho do Museu do Vinho
Caminhar nas estreitas ruas, becos e praças, além de adentrar nos labirintos do castelo ou das galerias medievais, é algo mágico, mostra que na verdade o tempo parece que ficou congelado nas paredes de pedra que compõem o belo cenário e traçado urbano da cidade.
No Museu do Vinho de Olite, o visitante conta com orientação sobre produção, técnica e cultura enóloga por meio de ferramentas de multimídia e da iconografia vinícola local, apresentada em cada sala. Sabemos que hoje está cientificamente comprovado que o consumo de uma dose diária de vinho beneficia a saúde e faz bem ao coração.  O curioso ainda pode treinar o paladar com pastilhas coloridas para sentir o sabor das diversas categorias de vinho, suave, seco, doce, etc., além de degustar um delicioso vinho da região.

O Castelo-Palácio dos reis de Navarra, é um dos mais importantes monumentos de estilo gótico europeu, cativando aos visitantes que ficam impressionados com seu traçado. Carlos III el Noble foi o responsável por sua construção ao final do século XIV.





Olite, julho 2007.
Regina Clara de Aguiar

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

La Gomera bela ilha atlântica



La Gomera – é considerada ilha colombiana, pelo simples fato de que o navegador Cristovão Colombo fez escala na viagem em que veio a descobrir o continente americano, e nas duas posteriores, em direção ao novo mundo, para abastecer as caravelas Santa Maria, Pinta e Niña, com água e mantimentos. Enquanto esperava o abastecimento o Almirante se hospedava, onde hoje funciona uma espécie de museu, “Casa Colón”, símbolo colombiano e motivo de atração turística.

Mas da casa original só restou mesmo o lugar, já que a ilha sofreu três grandes incêndios por pirataria, que apagou parte da memória documental e do casario. Foi reconstruída baseada em relatos e descrições da época, sendo hoje marco da presença colombiana na segunda menor das sete ilhas que compõem o Arquipélago das Canárias, território insular da Espanha.

De origem vulcânica, é curioso que não tenha acontecido nenhuma erupção nos últimos dois milhões de anos, por isso, segundo Paco, coordenador da Casa Colón, é uma ilha sedimentada. Seu formato meio arredondado, tem cerca de 375 quilômetros quadrados. Localizada no Oceano Atlântico, em frente à costa Norte da África atinge a altitude máxima de 1.487 metros sobre o nível do mar, no pico Garajonay. A ilha conta com administração própria, dividida em seis municipalidades, sendo San Sebastián de La Gomera a capital insular, fervilhando de turistas que entram e saem por duas vias, aérea ou marítima.

Atualmente pode-se dizer que possui uma infra-estrutura turística razoavel, com bares, restaurantes, padarias, supermercados e rede hoteleira, alguns de categoria cinco e quatro estrelas; mas existem também pequenas pensões, onde o visitante pode optar pela estadia em ambientes simples e acolhedores, e ter contato mais direto com a gente do lugar. E uma vez aportando na ilha vale a pena provar as delícias gastronomicas produzidas, muitas ainda artesanalmente, como o almogrote - creme elaborado com queijo de cabra, pimentão vermelho picante e outras especiarias - e o mel de palma. Os vinhos produzidos na ilha têm um carácter distinto, sendo consumidos com queijo local e carnes grelhadas de porco ou de cabrito, a especialidade gastronómica da ilha.

Por ter uma formação geográfica com predominância em áreas escarpadas na costa, as praias são escassas e de areia negra. Além das rochas as fortes correntes marítimas que produzem ondas altíssimas, são grandes os obstáculos para se chegar e desfrutar de um banho no azul atlântico. Talvez por esse motivo, a pratica de um turismo de massa não seja tão evidente, pois a maior parte da ilha encontra-se por explorar, sendo povoada por densos bosques entre montanhas, e um ecossistema sub-tropical.
Os habitantes da Gomera têm uma forma original de comunicação, que lhes permite conversar entre uma montanha e outra, a que chamam silbo (silvo). É uma linguagem composta por apenas seis fonemas, que com dois dedos na boca produzem sons sibilados, que permitem ser ouvidos a longa distancia. Conta Paco que isso vem da época dos aborígenes da ilha, mas foi apropriada pelos colonizadores europeus do século XVI, tendo assim sobrevivido à extinção. Hoje os gestores em educação local vem tendo a preocupação de criar mecanismos para que as crianças aprendam nas escolas públicas da ilha, a manejar o silbido.


Visível ou invisível - Enquanto esperava o transporte público - que na Gomera funciona muito bem, apesar da limitação de horários - que me levaria à entrada da trilha que dar acesso ao Garajonay lembrei de um livro, “As Cidades Invisíveis” do Ítalo Calvino, que li há algum tempo atrás, onde o autor mergulha numa viagem do que pode ser uma cidade ideal ou não, apropriando-se do imaginário de lendas, do personagem Marco Pólo que ao lado do Imperador Kublai Khan à sombra do seu jardim particular de magnólias, relata peripécias e andanças por territórios longínquos e inimagináveis.


Retindo sobre esse aspecto da obra de Calvino, me dei conta do quanto havia viajado para chegar a esse pequeno e mágico lugar até então invisível aos meus olhos e aos meus ouvidos, naquele momento, atentos a paisagem exuberante, assim como a história e às lendas locais.









Garajonay - localizado no centro da ilha, o pico dar nome ao parque natural com 3.986 hectares, tombado pela UNESCO em 1986, como patrimonio da humanidade.





O alto do Garajonay é guardião de um altar aborígene num sítio arqueológico, em área preservada e protegida. Apesar de estar quase sempre mergulhado em nevoeiros, o lugar oferece ao visitante uma vegetação rica em variedade, onde se destaca a laurisilva, sendo os bosques dessa espécie uma imagem viva do que pode ter sido esse ecossistema há milhões de anos atrás.







E por ser constituído com musgos e uma neblina persistente envolvendo-o todo tempo, o lugar possui uma atmosfera meio tenebrosa propicia a lendas e histórias que tornam o local mágico. Ainda hoje se acredita que a localidade conhecida como Laguna Grande, no interior do parque, em tempos passados foi cenário de prática de bruxaria, quando ao cair da tarde ao por do sol, as bruxas chegavam para celebrar seus “alkelarres”.


A origem do nome vem de uma lenda popular muito antiga sobre dois amantes, Gara e Jonay. No percurso da viagem de ônibus conheci um Jonay, o motorista se chamava assim; e um professor que viajava no mesmo veículo, explicava que é comum se encontrar pessoas na ilha com os nomes que dão origem ao pico. A tradição remonta ao passado aborígene, onde membros das tribos de uma ilha não podiam se mesclar e casar com os de outra ilha, e o arquipélago como sabemos é composto por sete ilhas.

Bom, o caso é que dois jovens príncipes”..., assim começou a contar Paco, enquanto eu perambulava entre os cômodos rústicos da casa vazia, com alguns quadros de pintores nativos expostos temporariamente. Paco contou que devido aos incêndios sofridos, muitos documentos da memória histórica da ilha, se perderam, e a casa foi reconstruída baseada apenas em relatos. Faz uma pausa para mostrar detalhes do muro com um tipo de pedra da ilha, que segundo afirma, hoje é bastante utilizada nas novas construções da Gomera.













Dando seqüência a lenda de Gara y Jonay, Paco explica que,

“durante o ano, na época dos aborígenes, era comum, em algumas festas, os habitantes de Tenerife, considerada a ilha infernal, fazerem a travessia até a Gomeira, então vista como a ilha da água, para celebrarem juntos alguns rituais. As jovens gomeras aproveitando o ensejo se deslocavam até aos “Chorros de Epina” para colher água dos sete jorros d’água considerados mágicos, com a intenção de ver o rosto antes do sol nascer, pois se a imagem refletida fosse clara, significava que encontrariam em breve seu parceiro amoroso, mas se o reflexo fosse turvo, alguma desgraça estaria por vir. E entre elas estava a bela princesa Gara. Mas o velho bruxo Jerián que observava as jovens, viu que a sombra do fogo queimava a água, significando que a morte se aproximava. Gara se olhou, e ao principio a imagem gerada foi clara e transparente para logo se tornar turva e agitada, até converter-se num sol incendiário que deixou a água suja e revolta. Jerián que observava, predisse que ‘o que tiver de ser será’. E acrescentou: ‘Foge do fogo Gara, ou o fogo haverá de consumir-te’. O pressagio correu de boca em boca.

E fatalmente ao chegarem os nobres de Tenerife, o príncipe Jonay que acompanhava o pai destacava-se em todas as competições, despertando a atenção da princesa, e ao se cruzarem seus olhares, aconteceu o inevitável, ou seja, a paixão se apoderou dos corações dos dois jovens príncipes, que anunciaram um possível compromisso, mas ao se propagar a notícia, o mar ficou agitado e foram ouvidos os estampidos do grande vulcão de Tenerife.
Logo todos lembraram dos presságios do velho bruxo sobre a questão da água e fogo que não se combinam. Gara era a princesa de Ângulo, lugar da água e Jonay, da terra do fogo, portanto um amor impossível, que as chamas que saiam da boca do Teide confirmavam. Se não voltassem atrás e se separassem logo, grandes males poderiam suceder. E ante esta terrível e maldita ameaça seus pais proibiram que voltassem a se ver. A fúria do vulcão foi aplacada.
Jonay junto com seus parentes nobres retornou a Tenerife, mas estava perdidamente apaixonado e não podia esquecer a princes; na metade do percurso da travessia, amarrou duas bexigas de animal infladas a cada lado do corpo e lançou-se ao mar nadando de volta a Gomera para junto da sua amada. Estava exausto, mas guiado por uma força amorosa incrível alcançou a costa, e assim foi ao encontro da terna Gara, se abraçaram apaixonadamente e fugiram entre os montes de laurisilva para refugiar-se num local de difícil acesso, conhecido hoje como El Cedro. Mas a felicidade durou pouco, já que a família de Gara ao tomar conhecimento da fuga da filha com o jovem príncipe Jonay, saiu em sua perseguição. Acossados tomaram a decisão de morrer juntos, Jonay afiou as extremidades de uma forte vara de cedro encontrada ali, e colocou entre seu peito e de sua amada com as pontas afiadas apontadas em seus corações. E olhando-se profundamente nos olhos um do outro, se abraçaram deixando que a vara transpassasse seus peitos atingindo ao músculo do coração, produzindo o encontro de água, fogo e morte, numa fusão eterna”.










La Gomera - 01/02/2011.
Regina Clara de Aguiar